Além dos conflitos, disputas e ânimos acirrados, naturais de qualquer processo eleitoral dentro ou fora da academia, a eleição para a Reitoria da UEPB foi marcada pelo surgimento de declarações machistas e racistas de uma colega professora do campus III, em Guarabira, contra as professoras Célia Regina Diniz e Ivonildes da Silva Fonseca, candidatas no pleito. Pouco tempo depois da divulgação e da enorme repercussão negativa das declarações nas redes sociais a professora responsável se retratou e publicamente pediu desculpas às vítimas.
Não custa lembrar que a última eleição para diretores da ADUEPB também foi marcada por ataques bastante similares, revelando que o problema é real e preocupante no meio acadêmico. Assim, o episódio, infelizmente, engrossará as nossas estatísticas de crimes raciais e episódios de machismo. E quando ocorridas dentro da UEPB, sua repercussão e desdobramentos são maiores e mais profundos, pois temos, enquanto universidade pública, o objetivo principal de formar e educar futuros profissionais que atuarão como agentes transformadores na sociedade.
O episódio inegavelmente coloca diante da comunidade universitária a necessidade de uma reflexão sobre o que ela e a instituição estão fazendo para o enfrentamento do racismo e do machismo estrutural. Que políticas permanentes têm adotado para lidar com dois dos mais graves e profundos problemas de nossa sociedade? Esses problemas foram, inclusive, temas de discussão nos recentes debates entre os candidatos a reitor(a) e vice-reitor(a) da instituição. Debates promovidos pela ADUEPB.
Outra reflexão importante que nós da ADUEPB queremos trazer a este debate foi apontada, por uma das vítimas, ao responder os ataques raciais sofridos. A professora Ivonildes Fonseca afirma que ” Nem sempre é com o sistema policial ou judiciário que as misoginias racistas aprendem”. Essa fala é muito importante para pensarmos que a discussão é muito mais complexa, e que o debate e as ações em torno da questão devem mirar um caminho para além do punitivismo, tão presente em nossa sociedade, pois a ideia de justiça atrelada a penalidade escancara a coisificação dos sujeitos, a segregação, a vigilância e punição dos grupos e populações. É sob a justificativa do punitivismo que se legitima os encarceramentos em massas e os policiamentos da vida cotidiana. É o punitivismo que sustenta a atual “prática do cancelamento”.
Nos parece que sendo um segmento que trata da educação, que tem a força de transformação social pela reflexão, nos cabe, enquanto partícipes do grande segmento educacional, uma outra possibilidade de lidar com essa violência. Assim, nosso posicionamento se localiza justamente na cobrança efetiva de políticas institucionais de enfrentamento ao machismo e ao racismo estrutural, além da lgbtfobia, transfobia e capacitismo, em todos os âmbitos da instituição, em todas as categorias, em todos os espaços. A resposta através de ações coletivas pela educação e de combate a violência simbólica, verbal ou física de minorias socias sempre será a melhor nota de repúdio que poderemos dar. Sem punitivismo virtual.
Campina Grande, 23 de outubro de 2020
A Diretoria
Veja conteúdos antirracistas e contra todas as formas de assédio:
Cartilha de Combate ao Racismo
Cartilha do GTPCEGDS: “Contra todas as formas de assédio” – 2ª Edição
10 Livros críticos antirracistas
10 livros literários antirracista
Fonte: ADUEPB – 23/10/2020
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