O legado de Marielle Franco pulsa nas ruas do Brasil

Oito dias após a execução da vereadora carioca Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes, movimentos sociais brasileiros seguem mobilizados para exigir a apuração dos assassinatos e para levantar as bandeiras defendidas por Marielle, como o fim da intervenção militar no Rio de Janeiro e a defesa dos direitos humanos e da população negra e periférica.
Na quinta-feira (15), o Brasil parou para homenagear Marielle e Anderson. O centro do Rio de Janeiro foi tomado por milhares de pessoas que prestaram homenagem em fente à Câmara de Vereadores, onde ocorreu o velório, e, depois, seguiram em manifestação até a Assembleia Legislativa do estado, exigindo justiça para o crime. Em São Paulo (SP), uma gigantesca manifestação ocupou a avenida Paulista. Em Brasília (DF), o plenário da Câmara dos Deputados foi ocupado por manifestantes, que cobravam justiça, durante sessão em homenagem à Marielle e Anderson. Diversos atos foram realizados durante o Fórum Social Mundial, que ocorreu em Salvador (BA), de 13 a 17 de março. Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Brasília, Salvador, Belém, Curitiba e Florianópolis foram algumas das cidades em que houve atos.
No domingo (18), uma grande manifestação foi realizada na Favela da Maré, onde nasceu Marielle. Um muro foi pintado em sua homenagem. Na terça-feira (20), novos protestos foram realizados em todo o país. Novamente milhares de pessoas foram às ruas do Rio de Janeiro, onde foi realizada uma celebração inter-religiosa em homenagem a Marielle e a Anderson, cobrar justiça e mostrar que as pautas defendidas pela vereadora não serão abafadas pelo seu assassinato. Em sessão da Câmara dos Deputados realizada na quinta-feira (22) em homenagem ao Dia Internacional do Direito à Verdade Monica Tereza Benício, companheira de Marielle Franco, e Anielle Silva, irmã da vereadora, lembraram a execução.
“Autoridades brasileiras não devem só a mim o que aconteceu com a minha mulher porque isso não vai trazê-la de volta. Devem ao mundo o respeito e a satisfação do que aconteceu nesse crime bárbaro, porque Marielle resiste nas nossas vidas e corpos. Ela lutava pelos pretos, pelos favelados, pelos LGBTs”, disse a companheira de Marielle, Mônica Benício, durante a solenidade. A irmã da vereadora, Anielle Silva, também discursou na cerimônia. “A única maneira que eles tinham de calar a minha irmã era matando. Um crime covarde, muito bem-feito, mas que a gente espera e urge por justiça”, disse Anielle Silva.
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) está movendo ações contra todas as calúnias divulgadas contra Marielle como forma de deslegitimar suas lutas. O deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) e a desembargadora Marília de Castro Neves são exemplos de pessoas que estão sendo processadas por afirmar erroneamente que Marielle era ligada ao tráfico. O PSOL também solicitou proteção a seus parlamentares. Talíria Petrone, vereadora negra da cidade de Niterói, está sendo ameaçada em redes sociais e, em 2017, recebeu a ameaça de uma bomba.
Uma história de lutas
Marielle era mulher, negra, da favela e lésbica. Nasceu e foi criada na Favela da Maré. Com 18 anos, entrou em um cursinho popular do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, mas teve que abandonar os estudos por conta da gravidez. Dois anos depois, voltou ao cursinho e passou no vestibular da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) para cursar Ciências Sociais, com bolsa integral. Cursou mestrado em administração pública na Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação teve o tema “UPP: a redução da favela a três letras”. Seus últimos anos foram vividos ao lado da arquiteta Monica Tereza Benício, a quem considerava “minha companheira de vida e amor”.
Militante do PSOL há mais de uma década, Marielle trabalhou no gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo, atuando na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias e na Comissão de Direitos Humanos, recebendo denúncias de violações de direitos humanos no Rio de Janeiro e acolhendo famílias vítimas da violência, fossem civis ou policiais. A violência foi, também, a razão que a levou a militar. Marielle perdeu uma grande amiga, vítima de bala perdida num tiroteio entre policiais e traficantes na Maré, e resolveu transformar sua dor em ação política.
Em 2016, Marielle se candidatou a vereadora na capital fluminense. Foi a quinta candidata mais votada da cidade, e a segunda mulher mais votada para o legislativo em todo o país, recebendo 46 mil votos. Marielle foi a terceira mulher negra eleita vereadora do Rio de Janeiro em toda a história.
Com informações de Agência Brasil.

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Nota da Diretoria do ANDES-SN sobre o assassinato de Marielle Franco

Vereadora Marielle Franco é assassinada no Rio de Janeiro

Fonte: ANDES-SN – Data: 22/03/2018

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