No 40º Congresso do ANDES-SN, as e os participantes do encontro estão conhecendo um pouco da história das e dos docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul durante a ditadura empresarial-militar. A exposição “Memória – 50 anos dos Expurgos da UFRGS”, situada no térreo do prédio Branco, campus Centro da UFRGS reconta os expurgos ocorridos nesse período, com base no livro “Os expurgos da UFRGS, Memória e História”, produzido pelo Coletivo “Memória e Luta”, da UFRGS.
Os chamados “expurgos” se caracterizaram pela exclusão de docentes da comunidade universitária, após julgamentos por comissões constituídas de professores e militares nomeados, devido à participação em mobilizações sociais. Os atingidos e as atingidas pela “Operação limpeza” foram humilhados publicamente e tiveram a reputação atingida, ao ponto de alguns não conseguirem outro emprego, alguns sendo obrigados a mudar de estado para sobreviver.
“Memória – 50 anos dos Expurgos da UFRGS”
Com base no livro “Os expurgos da UFRGS, Memória e História”, o professor de Arquitetura e artista José Carlos Freitas Lemos pintou as 18 aquarelas que compõem a exposição. As primeiras obras retratam o panorama externo à Universidade, como a Campanha pela Legalidade, conduzida pelo então governador gaúcho Leonel Brizola, até o panorama interno da UFRGS, como a ocupação da Reitoria e da Rádio da Universidade pelos e pelas docentes, estudantes e técnicos e técnicas, retratada na aquarela 6.
A aquarela 5 conta que a UFRGS “expurgou” 18 professores em setembro de 1964 e, conforme a Aquarela 12, ao menos 23 docentes foram expulsos em 1969. De acordo com a professora do Instituto de Letras, Cleci Bevilacqua, após a Anistia em 1979, houve quem chegasse a ser reinserido na instituição. A Aquarela 15, por sua vez, denota a tentativa de resgate dessa história por meio da publicação “Universidade e repressão: os expurgos da UFRGS”, feita na década de 70. Na época, a Associação dos Docentes da UFRGS assumiu a autoria do material, de modo a proteger os autores individualmente.
A exposição, lançada ao final de 2019, é acompanhada pela exibição de dois documentários com testemunhos dos professores: Luiz Carlos Pinheiro Machado, Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio Accurso e Carlos Jorge Appel. Ainda no campus Centro, os e as congressistas puderam conhecer o Memorial de granito, a escultura de Irineu Garcia que também homenageia docentes afastados sumariamente.
O Coletivo “Memória e Luta – UFRGS” foi criado com a motivação da urgência de valorizar os sentidos da democracia no contexto do marco de 50 anos dos afastamentos sumários de dezenas de professores da UFRGS, durante o período ditatorial recente. “De um lado, o livro, a exposição e as rodas de conversas que realizamos com os professores, resgata essa memória e, de outro, lembra para que não se repita. As aquarelas foram pensadas para comunicar aos jovens, em especial os estudantes da UFRGS, já que a exposição deve ser itinerante a partir do reinício das aulas presenciais,” anunciou a professora Cleci.
Além das atividades artísticas, que reforçam a luta por memória, verdade, justiça e reparação, a professora Regina Xavier, do IFCH-UFRGS, destacou ainda a campanha pela revogação dos títulos de Honoris Causa de Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici. Ambos ocuparam a presidência da República durante o governo empresarial-militar.
A campanha consiste na coleta de subscrições a um abaixo-assinado e no apoio ao processo de revogação que tramita no Conselho Universitário (Consun). “A nossa comunidade universitária não conhece bem a própria trajetória e a UFRGS têm um papel importante na defesa do ensino público e da democracia. Ao mesmo tempo, homenageamos estes docentes pelo legado de luta e de esperança, que é muito importante neste momento,” concluiu a historiadora.
Livro
O livro “Os expurgos da UFRGS, Memória e História” acontece também no âmbito do 400. Congresso do ANDES-SN, nessa terça-feira (29), no Auditório Araújo Viana, ao término da Plenária do Tema 02 “Plano de Lutas dos Setores”. A obra foi produzida em 2021 pelo Coletivo “Memória e Luta – UFRGS”.
ANDES-SN 40 anos
Na entrada do mesmo prédio onde se encontra a exposição do Coletivo “Memória e Luta – UFRGS”, local em que as e os docentes se reuniram para os grupos de trabalho mistos do congresso, também estão expostos banners com fotos e textos ilustrativos sobre os 40 anos de história do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN).
40º Congresso do ANDES-SN
O 40º Congresso do ANDES-SN reúne 642 participantes de 89 seções sindicais, entre delegados, delegadas (445), observadores, observadoras (146), convidados e convidadas (17), e diretores e diretoras (34) do Sindicato Nacional.
Até dia 31 de março, as e os presentes participam de grupos de trabalho e plenárias que discutem os planos de luta do ANDES-SN e questões organizativas e financeiras da entidade. Esse é o segundo maior congresso já organizado pelo Sindicato Nacional e o primeiro evento deliberativo presencial desde o início da pandemia, em março de 2020.
*Texto: Eliege Fante (ANDES/UFRGS), com edição e inclusão de informações do ANDES-SN
Foto: Fritz Rivail / Sedufsm SSind.
Fonte: ANDES-SN – Atualizado em 29 de Março de 2022 às 19h38
Posts Relacionados
-
Assembleia da ADUEPB define reivindicação de 18,73% de reposição salarial para data-base 2025 e escolhe delegação ao 43º Congresso do ANDES-SN
-
ADUEPB solicita mesa de negociação sobre data-base 2025 e reposição de 18,73%
-
ANDES-SN lança campanha “Lutar não é crime”
-
ADUEPB participa de sessão da ALPB sobre orçamento 2025, cobra o cumprimento da Lei de autonomia, pagamento do retroativo e reposição salarial
-
Começa o III Congresso Mundial contra o Neoliberalismo na Educação no Rio de Janeiro