Relatos mostram terror e angustia dos participantes do #OCUPABRASÍLIA

Após o truculento ataque da Polícia Militar de Brasília contra a manifestação do #OCUPABRASÍLIA, contra a aprovação da PEC 55/2016, na tarde de terça-feira (29/11/16), na Esplanada dos Ministérios, vários militantes que integravam a Caravana da Paraíba, organizada pela ADUEPB, ADUFCG, SINTEFPB e ADUFPB, escreveram relatos sobre os momentos de terror, violência e angustia a que foram submetidos, apenas por decidirem exercer seu de manifestação.

A ADUEPB e a ADUFCG decidiram trazer a público os relatos com o objetivo de contribuir para a avaliação da manifestação e das suas consequências e para denunciar como os movimentos sindical e sociais continuam sendo tratados neste país, em especial pelo Governo Federal.

Abaixo, três depoimentos que se interligam na certeza que o objetivo das forças policias era só um: reprimir e dispersar os manifestantes do #OCUPABRASÍLIA.

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Saímos de Campina Grande-PB no domingo, dia 27. Éramos três professores: um do IF e dois da UEPB, e os demais 42 eram estudantes secundaristas e universitários. No dia da nossa chegada, nos concentramos na UNB.

No dia seguinte, fomos ao local das atividades. Após concentração e distribuição do almoço no MEC, assistimos a fala da Maria Lúcia Fatorreli. Em seguida, caminhamos para a concentração no Museu e de lá caminhamos em direção ao Senado. Nunca tinha visto tanta gente na rua lutando pela mesma causa. Não sou a melhor pessoa para números, mas acredito que tínhamos 50.000 pessoas na rua. A energia era forte, uma mistura de determinação e esperança. Nosso grupo rapidamente chegou ao gramado que antecede o espelho d’gua. Sem aparente identificação,  os policiais já estavam posicionados para nos receber. Até então não tinha havido nenhum tipo de embate, apenas algumas pessoas dentro da água. Do lado oposto em que estávamos, uma mulher dizia algo para os policiais. Nesse momento tive a ideia de abrir a bolsa e pegar o celular. Nessa fração de segundo ouvi uma vaia generalizada e levantei os olhos: a mulher estava inerte na água. Todos se revoltaram com o fato do policial jogar spray de pimenta algumas vezes e ela não recuar. No entanto, a maior revolta foi a agressão física que a fez desmaiar na água: enquanto jogava o spray, ele a chutou no rosto. Lembrem- se que ela estava no nível mais baixo (na água) e ele no terraço do Senado. Sim, a polícia provocou e começou as agressões. Aí tudo virou um caos. Um grupo virou um carro branco, acendeu o fogo e em seguida o empurrou em direção aos policiais, numa espécie de barricada para tentar resgatar a moça. Outras pessoas foram de mãos para cima para tentar negociar a retirada garota, mas também levaram spray de pimenta.  Nesse momento, as bombas de gás lacrimogêneo começaram a cair por todos os lados. Uma caiu na nossa frente, saímos de lá com aquela sensação de queimor insuportável, mas, ao mesmo tempo, já estávamos com pequenas quantidades de vinagre ( já que este e o leite de magnésio são eficazes para barrar os sintomas que o gás causa). Todas essas recomendações recebemos e propagamos na viagem, bem como as estratégias de rota de fuga ( com uma montagem de um mapa do plano piloto) em caso de embate com a polícia, dispersamento ou desencontro. 

A medida em que recuávamos, a polícia avançava. Ela não poupava ninguém. Quando o protesto começava a tomar corpo, já se aproximava do fim do expediente dos trabalhadores. Ninguém foi poupado. Vi idosos, mulheres com crianças, e nós, os militantes, apanharem muito. O desespero era fugir do gás e, simultaneamente, retirar quem estivesse atingido ao lado: foi a maior lição de solidariedade que vivi. 

Nossa janela de fuga (sim, porque 95% das pessoas que lá estavam não foram preparadas para uma guerrilha urbana) foi proporcionada pelos Blacks Blocks. Eles retardaram o avanço da polícia e criaram, junto com alguns militantes mais experientes, barricadas para conter o avanço policial. Eles também apanharam muito. Carros foram queimados para distrair atenção dos agressores, painéis e alguns prédios de ministérios foram quebrados na tentativa de diminuir as agressões e salvar as pessoas feridas.

Nesse momento percebemos os helicópteros (eu contei 4 diferentes). No início eu achei que era apenas para acompanhamento da movimentação da massa. Já no início da noite, algumas aeronaves começaram a fazer voos mais baixos e, logo em seguida, estourava uma nova bomba. Eu não vi cair nenhuma bomba dos helicópteros, mesmo porque o inferno estava no solo, mas a polícia estava muito longe para que as bombas chegassem a nós. O pior aconteceu quando a cavalaria entrou em ação. O pânico tomou de conta. As pessoas corriam enlouquecidas com medo de serem pisoteadas pelos cavalos. E o confronto seguiu nesse terror. Estávamos assustados demais para reagir e, em nosso grupo, a prioridade era proteger os alunos já que a maioria deles nunca tinham presenciado embates tão duros. Hoje percebo que o país inteiro não tinha vivido tão recentemente tamanha truculência. 

Conseguimos enviar boa parte do grupo para o ônibus, mas ainda tínhamos que pegar os outros no nosso ponto de fuga. Criou-se assim uma espécie de equipe de resgate. Nesse momento trocamos de blusas, tiramos botons/adesivos e jogamos as bandeiras fora. O mais importante era restabelecer em segurança o grupo. E as bombas continuavam a cair. Um dos aspectos que a bomba causa é o impacto psicológico: elas tem um som ensurdecedor e treme o chão quando toca o solo. Ainda assim, depois de juntarmos quase todos e o clima aparentemente ter  acalmado, ainda tínhamos os desaparecidos. Só tínhamos duas alternativas: hospital ou cadeia. A ajuda dos companheiros que não estavam no protesto foi fundamental. Eles nos ajudaram a localizar várias pessoas, entre elas, nossa companheira desaparecida que estava no hospital da UNB. Ela foi socorrida por uma enfermeira que tinha na mão o magnésio e a achou desacordada debaixo de uma árvore. Não sabemos seu nome, apenas que salvou nossa aluna. Para esta pessoa os meus mais sinceros agradecimentos. Não são todos que se dispõe a salvar a vida do outro, colocando a sua própria vida em jogo. Não podemos esquecer da equipe médica que a atendeu. Não tenham dúvidas de que foi um belíssimo trabalho, já que nossa aluna possuía uma fragilidade pulmonar que complicou os sintomas do gás em seu corpo. Obrigada equipe médica da UNB.

Ao acordar, nossa aluna conseguiu passar as informações para o pessoal do hospital, que entraram em contato com familiares e professores de sua unidade de ensino que, por sua vez, entraram em contato conosco. Ela nos relatou que o hospital estava cheio e que, em sua maioria, mulheres eram as principais vítimas, sobretudo as que estavam com os seios desnudos. Impossível não fazer um leitura sociológica desse fenômeno.  Ela também nos relatou um caso de uma criança de (aparente)10 anos. Ela e sua mãe estavam muito machucadas: a mãe com marcas roxas pelo corpo causado pelo cacetete, a criança com 15 pontos na boca em direção às maçãs do rosto. A mãe foi buscá-la na escola vestindo uma camisa do “Fora Temer” e, por azar, estava no olhou do furação. A mãe foi agredida pelo policial que, não satisfeito com o espancamento, partiu para agredir a criança.

Pude perceber que existia prazer em alguns policiais em agredir as pessoas, outros, nos indicavam com um olhar uma rota de fuga. Pessoas e pessoas. 

Não posso deixar de mencionar o papel de alguns cidadãos de Brasília. Mesmo não estando no protesto, eles nos indicavam os possíveis caminhos para fugir daquela insanidade. Muito obrigada. 

Já passava das 21h e ainda tínhamos alunos desaparecidos. Ficamos sabendo que a polícia tinha fechado a rodoviária e estava prendendo militantes dentro dos ônibus estacionados nas imediações da rodoviária. Ao mesmo tempo, dois dos nossos alunos estavam em outra localidade com uma delegação diferente. Decidimos pegar um táxi e entrar na rodoviária para procurarmos o último desaparecido. Para nossa sorte, recebemos mensagem de que ele tinha encontrado nosso transporte e estava a salvo. Assim retornamos ao ônibus e saímos de Brasília naquele mesmo momento.  

Sentimos falta da presença da CUT e do MST.  Acredito que se eles estivessem lá o resultado poderia ser diferente. No entanto, as entidades que estavam, nos deram maior apoio possível, inclusive, de ordem tática. Não foi a toa que a polícia deu voz de prisão aos manifestantes que estavam no alto do trio elétrico chamando a militância a resistir aos avanços dos policiais. 

Acredito que o protesto de ontem e seus desdobramentos deram início a outro momento na história do país. E o protagonismo será da juventude. Cabe a nós, os professores, o papel de elaborar, proteger, orientar, salvar, zelar e agir por nossos jovens. 

Me desculpem eventuais erros e equívocos, mas ainda estamos na estrada rumo ao nosso destino. Ao menor sinal de Internet, recebemos muitos pedidos de informações e, por este motivo, fiz esse relato.

Nesse momento, 20:56 do dia 30/11/16, em algum lugar desta enorme Bahia, decidi escrever esse texto como forma de informação, mas também de expurgo para a compreensão geral dos chocantes acontecimentos de ontem.

É impressionante o crescimento individual deste grupo de alunos. Eles estão mais coesos e solidários. No início da viagem houve pequenos ruídos por causa dos posicionamentos de um grupo de alunos com outro grupo que tinha orientação LGBT. Neste exato momento estou sentada entre dois grandes grupos que estão debatendo questões específicas. Os rapazes mais conservadores estão discutindo gênero com parte do grupo LGBT e o outro discutindo formas de exploração do trabalho. Se tornaram homens e mulheres, literalmente, do dia pra noite. Eu apenas os observo, afinal quem mais está aprendendo aqui sou eu. E meu coração está inundando de amor e felicidade.

A PEC passou e irá passar. Mas o sentimento de que fiz ( fizemos) tudo que estava ao meu (nosso) alcance me conforta, mas não me resigna. Saio mais convicta da necessidade da luta.

Mauriene Freitas, Profa. da UEPB.

 

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Caros compas de luta e militância, ontem vivemos momentos de que jamais imaginaria retornar à cena social e política desse país.  A polícia do Distrito Federal transformou a esplanada dos ministérios em um verdadeiro campo de batalha – ou quase massacre – ao enfrentar a manifestação pacífica, ordeira e cidadã de aproximadamente 30 mil pessoas com inexplicável truculência, violência e atitudes facistas. Nem nos tempos de ditadura se viu tanto gás de pimenta, gás lacrimogêneo, cavalaria, força armada, viaturas, helicópteros militares, posicionamentos estratégicos de milicos no alto de prédios e estratégias de cerco contra os manifestantes.  Foram muitos os que passaram mal, desmaiaram, outros levados para hospitais e, o mais grave, vários presos.

A manifestação muito bonita, animada, com muitos jovens, estudantes, professores, trabalhadores de diferentes setores do serviço público e privado, sindicatos e algumas centrais sindicais mal se aproximou do congresso e logo foi recebida com tamanha violência, muitas bombas de gás. Enquanto não conseguiu dispersar toda a multidão, a polícia não deu trégua.  Foi verdadeiro horror, acho q nunca visto em Brasília.                       

É verdade que alguns grupos se infiltraram na manifestação e fizeram sua estratégia de ação direta de enfrentamento à polícia: black blocs, anarquistas e outros congêneres desencadearam o processo logo na chegada, permitindo a leitura de que havia uma ação articulada para não permitir a presença de manifestantes e ligo se iniciar a “desocupa Brasília”… Isso precisa ser analisado melhor pelas entidades que organizaram o movimento, que poderia ter se alongado muito mais e ter tido um desfecho mais interessante e menos traumático. Todavia, cumpre registrar que nada justifica tamanha truculência militar.                       

Essa forma de tratar as manifestações públicas parece ter sido um recado duplo: para as demais polícias dos outros estados sobre o trato a ser dado nas manifestações futuras, de intolerância e demonstração de força e autoritarismo;  e para os movimentos sociais, sobre o que ocorrerá quando de outras medidas de retirada de direitos em votação no congresso. Tempos sombrios, temerosos, mas que não podem calar a luta nem a resistência social a esse governo e congresso anti-popular e antidemocrático.  A luta segue seu curso, apesar da ressaca da violência policial e da aprovação da PEC 55 em primeiro turno ontem.   

Antônio Lisboa –  Prof. da UFCG

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Estava em Brasília na coordenação do ato e tive uma visão privilegiada, pois, estava em cima do carro de som. Só desci algumas vezes, ou pra tentar negociar com o comandante, ou pra livrar alguém da repressão.

O primeiro fato a pensar é: por que o presidente do senado não adiou a votação? O país estava em luto. O terrível acidente com os jogadores da Chape comovia o país.

Conversando com o chefe de gabinete do líder do PSOL , ele também achou estranho pois, por muito menos o Congresso suspende os trabalhos.

Acredito que o governo manteve pra mostrar sua disposição de reprimir o movimento. Todas as tentativas de negociação entre a coordenação do ato e o comandante fracassaram e este nos ameaçava de prisão.

Assim que a manifestação chegou na frente do Congresso a Polícia começou a jogar gás de pimenta. Uma senhora que estava na manifestação, com o efeito do gás de pimenta caiu desmaiada no espelho d’água.  Os manifestantes foram impedidos de socorrer e neste momento usaram um carro como escudo. Viraram o carro entre os manifestantes e a Polícia e só assim entraram no espelho d’água para socorrer a senhora.

A partir dai comecei a assistir a maior ação repressiva dos meus 40 anos de militância.

Uma ação altamente combinada entre tiros de borrachas, bombas de gás e de efeito moral e cavalaria, onde pra mim revelou o fato de que o governo para manter a votação tinha investido muito na repressão, inclusive com muitos P2 (policiais infiltrados na manifestação)

Um fato curioso é que algumas rotas combinadas pra fuga estavam cheias de policiais, revelando que existia informantes nas nossas reuniões.

Quase 40 mil pessoas estavam em Brasília na sua grande maioria jovens.

Vivemos momentos de exceção com requintes de maldades.

David Lobão – Prof. do IFPB

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Brasília : a repressão não tem limites
No último dia 29 de novembro os jovens deste Brasil ocuparam Brasília . Éramos secundaristas, universitários em absoluta maioria, mas também éramos professores, médicos,  jornalistas, advogados, sociólogos etc;  éramos negros, brancos e indigenas, quilombolas; Mulheres e homens, heterossexuais e LGBT’s. Muitos militantes de partidos políticos, mas a esmagadora maioria sem filiação à partido algum. Neste dia mostramos que é possível enfrentar os golpes deste governo contra a educação, saúde e nossos direitos sociais. Todos estávamos unidos por uma bandeira.  NÃO A PEC 55.
Assim, após dois dias e uma noite viajando, (mais uma noite dormindo dentro do Ônibus no estacionamento da UNB) nos concentramos a partir de 11h  nas imediações do MEC, depois na frente do Museu Nacional nos somamos a outros milhares e partimos pacificamente em direção ao Senado Federal. No percurso recebemos o apoio da população, os funcionários dos ministérios desciam para ver a multidão de perto e os moradores da cidade buzinavam seus carros em demonstração de apoio a nossa causa. Enquanto isso os jovens cantavam e dançavam , demonstrando com toda a sua beleza e descontração que estavam ali de forma pacifica, mas que vieram para derrotar a PEC 55 e fazer historia. Aos poucos começamos a perceber a presença da policia mas, até então, esta apenas observava  a movimentação.
Após alguns minutos de marcha conseguimos chegar ao Senado Federal de forma pacífica e sem nenhum incidente. Assim, já no gramado do Senado entoávamos palavras de ordem enquanto percebíamos a presença dos policiais que protegiam o Palácio de Renan e das empreiteiras. 
Enquanto isso, do outro lado da mobilização, uma jovem se aproximou do policial na tentativa de dialogar com ele para que evitassem os ataques, pois estávamos todos protestando de forma pacífica e não era necessário esse tipo de reação da policia.  Porém,  quando a jovem tentou dialogar a resposta do policial foi despejar um tubo de spray e pimenta no seu rosto. Ao se afastar, já zonza, para tentar se proteger e respirar um pouco, a moça recebeu um chute na cara desferido pelo mesmo PM que lhe atacou com spray de pimenta.
A partir de então,  e vendo o risco que aquela jovem estava correndo, percebemos que um grupo acabava de virar um carro e, para se proteger,  empurrava em direção a PM enquanto tentavam resgatar a vítima do elemento policial. Ao mesmo tempo,  do outro lado do gramado,  uma bomba de gás foi jogada na nossa direção,  caindo nos pés de uma professora de nossa equipe, que cuidou de dá o comando de recuar. O que fizemos.
Neste momento, a maioria  dos companheiros que estavam conosco recuou um pouco mais, enquanto outra parte decidiu continuar protestando no gramado do Senado, enquanto a policia continuava a atirar bombas de gás contra a militância, que não dispunha de meios para ataque ou defesa,  senão o próprio corpo.  Nesta fase do protesto, pedíamos que a população não recuasse e continuasse no gramado de forma pacífica para continuarmos nossa pressão sobre os Senadores. Foi então que a PM intensificou os disparos de bombas de gás. 
A partir de então,  o que vimos foram dezenas de bombas de gás caindo sobre as pessoas que ainda insistiam em continuar no gramado do Senado. Neste momento, já meio entorpecidos pelos efeitos do gás lacrimogêneo éramos ajudados por algumas pessoas e, em seguida, após recuperar o fôlego, ajudávamos a alguns companheiros que estavam no meio do fogo cruzado. Até que chegava outra bomba e tínhamos que correr para escapar dos seus efeitos.  Foi aí que dezenas de policiais foram chegando para reforçar a repressão,  helicópteros passaram a dar vôos rasantes sobre multidão e os policiais partiram para o enfrentamento físico; nesse momento, ainda sobre ataques das bombas de gás lacrimogêneo, ajudamos alguns colegas a sair da zona de encontro da tropa física.
A partir desse momento os policiais com os seus cassetetes partiram para bater em todas as pessoas que encontravam pela frente e passaram a ter a ajuda da cavalaria, partindo em direção às pessoas. A pancadaria foi geral, mulheres  com crianças de colo, idosos, crianças tudo era alvo para a violência gratuita da PM. Foi nesta fase do protesto que uma militante do nosso grupo de tanto ser atacada com gás de pimenta desmaiou e foi parar no hospital .
Quanto ao restante da militância, estávamos todos no meio dos milhares de brasileiros, que se afastavam do Senado pressionado pela truculência policial. Foi então que outros personagens, os Black Blocks, entraram em cena. Ao fazerem barricadas e enfrentarem a policia com suas ações de defesas, este grupo dificultava as ações violentas da policia para com os demais manifestantes . A partir desse momento, com uma certa lentidão da PM em fazer o povo recuar, os helicópteros entraram em cena e passaram a despejar bombas de gás lacrimogêneo sobre a massa forçando um maior recuo em relação ao Prédio do Senado.
A estratégia de usar os helicópteros funcionou e o povo, além de ficar longe do Senado, acabou encurralado entre a rodoviária e o Museu Nacional,  com a PM partindo para agressão e os helicópteros jogando bomba de gás.
A partir de então, começamos a fazer a estratégia de fuga e direcionar nossos companheiros de Campina Grande para o Ônibus. Nesse momento percebemos que faltavam mais de 10 jovens. Foi então,  que retornamos até a multidão procurando os desaparecidos. Em seguida, mudamos nosso visual, e fomos ao ponto de encontro, na rodoviária, cercada por policiais ,  encontramos 7 companheiros e encaminhamos para o ônibus.  Em seguida, um estudante da UFCG, que é de Brasília, telefonou para seu pai e foi resgatar  a moça que foi  socorrida para o hospital após os ataques de gás.
Nesse momento, ao chegarmos no ônibus percebemos que ainda faltavam 5 companheiros. Foi então que pegamos um Táxi e fomos busca-los no Hotel Nacional, e na rodoviária que, minutos antes, estavam cercados de policiais. Ao voltarmos para o Ônibus finalmente os outros 2 companheiros desaparecidos já estavam retornando, fechando o nosso grupo.
Assim, ao mesmo tempo que buscávamos garantir a integridade de nossa equipe, as outras caravanas faziam a mesma coisa. E assim foi se encerrando esse dia, em que milhares de jovens foram para Brasília lutar pelo seu futuro e foram recebidos por bombas de gás,  spray de pimenta, cavalaria e ataques aéreos.
A PEC 55 foi aprovada em primeiro turno, mas não nos venceram. Demonstramos que nas ruas podemos enfrentar esse governo. Espero que o exemplo de luta deste dia 25 de Novembro embale os líderes de nossas frentes, fóruns e centrais na construção da greve geral.
Não a PEC 55.
Fora Temer.
Prof. Nelson Junior – UEPB
PS: No retorno de Brasília a militante do nosso ônibus que foi hospitalizada devido as consequências das bombas de gás, passou mal (acreditamos que foi devido ao fim do efeito da medicação que tinha ingerido no hospital) e o grupo decidiu que tinhamos que ir a um posto de saúde.  Assim, fomos até a UPA de Itaberaba-BA, onde a mesma foi medicada. Agora segue estável.
Águas Belas, PE -15h
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